Tarefas de ensino – Controlo, progressão e regressão

Falava-se num artigo anterior sobre a necessidade de avaliar as tarefas de ensino-aprendizagem, de forma a adaptar a dificuldade e a complexidade das mesmas às competências dos indivíduos [LINK]. Estas variáveis, apesar de aparentemente redundantes representam conceitos distintos.

O conceito de complexidade – como aqui apresentado – aborda a relação entre as características do exercício proposto (número de ações possíveis para o portador, número de jogadores adversários, etc) e essas mesmas características no jogo formal. Como se compara, do ponto de vista informacional, o exercício ao jogo?

O conceito de dificuldade aborda a relação estabelecida entre as características presentes no exercício para a equipa atacante comparativamente às características para a equipa em fase defensiva. Qual o “equilíbrio de forças” no exercício?

Um exercício de 1×2 apresentará uma baixa complexidade comparativamente ao jogo formal, tendo no entanto uma elevada dificuldade na sequência da inferioridade numérica experienciada pelo portador.


Propôs-se no artigo referido a escala e o conjunto de perguntas seguintes, de forma a avaliar a necessidade de progredir ou regredir exercícios de treino, partindo do pressuposto que um estímulo adequado às competências estaria presente nos casos em que a tarefa originasse respostas intermédias.

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Figura 1. Escala para avaliação de exercícios.

No entanto, apesar deste conjunto de perguntas nos informar sobre a necessidade de progredir ou regredir as tarefas, o mesmo não permite uma avaliação do impacto das alterações efetuadas pelo treinador na dificuldade e complexidade vivenciadas pelos jogadores.

Imagine-se um jogo reduzido de 2 + 2 (joker) x 2 em que o objetivo da tarefa é sempre alcançado com recurso ao comportamento preferencial. Poderá um exercício semelhante de 3 + 3 (joker) x 3 representar uma progressão adequada de dificuldade e complexidade? Para esta avaliação torna-se necessária a utilização de algumas métricas que auxiliem o processo de decisão do treinador… As fórmulas propostas por Travassos para a modalidade de Futsal apesar de apresentarem limitações – reconhecidas pelo próprio – configuram-se como soluções de fácil aplicação.

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Cálculo 1. Fórmulas para Dificuldade e Complexidade.

(No jogo formal o portador terá 10 possibilidades de passe + 1 possibilidade de remate + 1 possibilidade de condução/drible. Apesar de ser uma avaliação imprecisa, garante facilidade nos cálculos…)

Outros fatores como o espaço disponível para cada atacante e defesa, ou o rácio entre comprimento e largura do campo, poderão também ser incorporados na avaliação da dificuldade e complexidade dos exercícios.

Clarificando a aplicação destas métricas no processo de avaliação de exercícios, utilizando o exemplo anterior de jogos reduzidos…

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Tabela 1. Comparação entre exercícios.

Considerando as relações numéricas e dimensões propostas para ambas as tarefas, a situação nº 2 não poderá ser considerada uma progressão de dificuldade relativamente ao 2 + 2 x 2, apesar de representar uma progressão de complexidade.

Caso as dimensões do campo sejam alteradas as conclusões poderão ser diferentes. Imagine-se que no segundo exercício as dimensões aumentam para 30 (C) x 20 (L)… Apesar de os valores obtidos nas fórmulas de Travassos se manterem inalterados, o espaço a ocupar por cada defesa aumentará, gerando um consequente incremento da dificuldade para estes. Verificar-se-á o oposto para os atacantes….

O rácio C:L poderá também ser utilizado como um fator de modelação da dificuldade da tarefa. Num exercício com o objetivo de marcar golo em duas mini-balizas afastadas à largura, um aumento deste rácio significará um campo mais “alongado” com o consequente aumento da dificuldade em encontrar espaços livres no eixo transversal.


A necessidade de progredir ou regredir as tarefas de treino deverá ser constantemente avaliada. No entanto esta avaliação representa apenas parte do caminho… É ainda necessário garantir que o exercício proporciona um estímulo no sentido pretendido. A tomada de decisão dos treinadores não se deverá sustentar somente em métricas como as apresentadas. No entanto, estas retiram graus de incerteza à atuação tornando o processo de ensino-aprendizagem mais sistemático.

Utilizem-se métricas e cálculos, mas uma vez que Futebol não é (só) matemática não nos deixemos limitar demasiado por ela…


Referências Bibliográficas

Travassos, B. (2014). A tomada de decisão no futsal (2ª edição).


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