Constrangimentos – Origens e relações

A atuação dos jogadores – tanto em treino como em jogo formal – é influenciada por um conjunto de informações de origem interna e externa. Essas informações ou constrangimentos limitam os graus de liberdade do sistema e balizam quais as ações passíveis de serem realizadas com o propósito de alcançar os objetivos competitivos.

As Leis de jogo, por exemplo, apresentam-se como um fator de origem externa ao indivíduo com capacidade de influenciar as ações emergentes… Alterações a essas Leis, como a do pontapé de baliza, irão modificar os comportamentos ao constringir de forma diferente o jogo.

O ruído ambiente, as reações do público ou o posicionamento dos adversários,  apresentam-se também como constrangimentos externos com potencial para modificar as ações coletivas e individuais.  Paralelamente, as características morfológicas de um indivíduo, o seu conhecimento do jogo ou o estado de humor vivenciado apresentam-se como fatores de origem interna. Atletas sujeitos a diferentes combinações dessas “características” irão solucionar uma situação-problema de formas distintas.

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Figura 1. Constrangimentos, perceção e ação.

Dentro do aglomerado de constrangimentos que atua sobre um sistema é possível afirmar que alguns modificar-se-ão em escalas temporais mais curtas comparativamente a outros. Os posicionamentos em campo,  por exemplo, irão alterar-se de forma mais rápida e frequente relativamente às Leis do jogo. O estado de fadiga de um indivíduo irá modificar-se mais rapidamente em comparação às características morfológicas deste.

Estes aglomerados, mutáveis em diferentes escalas temporais, poderão ser divididos por uma questão taxonómica em sub-grupos relativos às dimensões do rendimento (tática, técnica e psicossocial). A dimensão técnica encontra-se excluída pelo facto de constituir uma expressão de comportamento e não um constrangimento prévio às ações. Será ainda incluído um sub-grupo no qual serão considerados fatores influenciadores de ordem mais generalista.

Atente-se então na tabela exemplificativa das escalas temporais a atuar sobre os sub-grupos de constrangimentos.

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Tabela 1. Escalas temporais nos constrangimentos.

Adicionalmente, é possível afirmar que existem relações de influência recíproca entre alguns destes constrangimentos. Imagine-se o “estado de fadiga”… Esta condicionante, rapidamente alterável, será influenciada e influenciará outras de escala temporal semelhante. Como tal, o “estado de fadiga” terá efeito sobre as “emoções” vivenciadas, sendo essa relação recíproca. As “emoções” influenciarão também o “estado de fadiga” do indivíduo.

A relação recíproca estará também presente entre constrangimentos de um mesmo sub-grupo com escalas temporais contíguas e em ambos os sentidos… Do lento para o rápido, mas também do rápido para o lento. Utilizando como exemplo as condicionantes de origem interna do sub-grupo psicossocial… Os “traços de personalidade” de um indivíduo influenciarão as suas “motivações”, que terão também influência nas “emoções” vivenciadas. Alterações nesses traços – que serão necessariamente lentas – influenciarão todos os níveis subsequentes. De forma oposta, as “emoções” vivenciadas terão influência sobre as “motivações” dos indivíduos que, numa escala temporal mais lenta, poderão influenciar os “traços de personalidade”.

Existe, como tal, um conjunto de informações de diferentes origens (interna ou externa) que limitam as ações passíveis de serem realizadas, sendo algumas dessas informações mais estáveis no tempo comparativamente a outras, estabelecendo as mesmas relações de influência recíproca. E estas considerações deverão estar presentes no planeamento e condução do processo de ensino-aprendizagem… 

Numa abordagem sucinta a esse processo, será importante referir que o treinador deverá diagnosticar – em reverse engineering – quais os constrangimentos limitadores das ações emergentes, devendo intervir posteriormente sobre os mesmos. Como? Dependerá da situação… No entanto as intervenções sobre os diferentes constrangimentos (objetivos definidos, regras do exercícios, emoções vivenciadas, etc.) deverão ser coerentes entre si, contribuindo cumulativamente para uma mesma expressão comportamental.

Não esquecendo que para saber no que intervir o treinador deverá conhecer previamente onde pretende chegar. Daí a importância dos modelos táticos, técnicos, psicossociais e de esforço [LINK].


Referências Bibliográficas

Balagué, N., Pol, R., Torrents, C., Ric, A., & Hristovski, R. (2019). On the relatedness and nestedness of constraints. Sports Medicine, 5(6).


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